Se existe um fenômeno bem brasileiro – além do jeitinho, da criatividade e do churrasco no domingo – é a autossabotagem financeira. E quando o assunto é dinheiro, ela aparece com força total.
A verdade é que muita gente atrasa a própria vida financeira, mesmo ganhando um salário razoável, simplesmente porque vive num ciclo vicioso de decisões que não fazem o menor sentido.
Quer saber se esse é o seu caso? Vem comigo, porque a conversa de hoje vai doer um pouquinho, mas no final vai valer cada centavo!
O que é autossabotagem financeira, afinal?
Autossabotagem financeira é quando você mesmo cria armadilhas que impedem sua vida financeira de andar. Não é o banco, o chefe, nem a economia – é você que está se boicotando. É como colocar o salário no bolso furado e depois culpar o vento. E olha que esse comportamento é mais comum do que parece.
Vamos de exemplo? Imagine a Carla. Todo mês, no quinto dia útil, o salário pinga na conta. A primeira coisa que ela faz?
Compra uma calça que estava no carrinho há duas semanas, pede um delivery “porque ela merece” e paga só o mínimo da fatura do cartão. Quinze dias depois, está com R$ 12,50 na conta e pedindo Pix pra amiga. Adivinha quem sabotou quem?
Por que a gente faz isso?
A resposta curta: emoção.
A resposta longa: falta de planejamento, ansiedade, pressão social, consumo como recompensa, crenças limitantes sobre dinheiro… ufa! Muita gente foi ensinada que dinheiro é sujo, que quem tem muito é ganancioso, que trabalhar demais é sinônimo de sucesso.
Junte isso a uma educação financeira quase inexistente e pronto: temos a receita perfeita para a autossabotagem brasileira.
Você já disse ou pensou uma dessas frases?
“Eu mereço esse mimo, trabalhei demais esse mês!”
“Dinheiro é pra gastar, não dá pra levar pro caixão mesmo.”
“Depois eu vejo como pagar, agora é só essa parcelinha pequena.”
Se sim, bem-vindo ao clube dos autossabotadores.
O ciclo do arrependimento (e como quebrá-lo)
A autossabotagem funciona em ciclos. O mais famoso é:
- Recebe o salário.
- Se empolga, gasta sem pensar.
- Chega o meio do mês, começa a entrar no desespero.
- Pede empréstimo, usa crédito, atrasa conta.
- Sente culpa, jura que mês que vem será diferente.
- Volta pro passo 1.
Pra quebrar esse ciclo, o primeiro passo é se observar. Sério. Antes de culpar o universo, dá uma olhada nas suas próprias atitudes.
Dica prática: Durante um mês, anote tudo o que gasta. Cada café, cada Uber, cada “só uma besteirinha”. Ao final, você provavelmente vai levar um susto – e descobrir que o rombo não vem do salário baixo, e sim da falta de controle.
Os maiores vilões da autossabotagem financeira
Vamos falar dos sabotadores clássicos que fazem a conta bancária sumir misteriosamente:
O cartão de crédito invisível
Você passa o cartão e só pensa na fatura daqui a 40 dias. A compra parece “grátis” e aí o estrago vem todo junto. Parcelou até o pastel da feira? Já começou mal.
A frase “eu mereço”
Sim, você merece tudo de bom na vida. Mas será que precisa disso agora? O “eu mereço” já levou muita gente ao SPC. Cuidado com essa armadilha emocional.
A vida de Instagram
Sair todo fim de semana, ter o look do momento, fazer viagens sem planejar… tudo pra parecer bem na foto. Mas e a conta real? Você tá vivendo pro feed ou pra sua vida de verdade?
O “só essa vez”
Essa é uma clássica. A pessoa jura que é só hoje, só essa compra, só esse presente. Mas quando vê, já virou rotina. E rotina cara.
Como identificar se você está se sabotando financeiramente?
Se liga nesses sinais de alerta:
- Você não sabe pra onde foi o dinheiro do mês;
- Tem vergonha de abrir o app do banco;
- Vive pedindo “adiantamento”;
- Paga o mínimo do cartão todo mês;
- Promete economizar, mas não consegue passar uma semana sem comprar algo novo.
Se você marcou dois ou mais desses, a luz vermelha já acendeu.
Então, como parar de se sabotar?
Agora a parte boa: tem como mudar. A reeducação financeira é possível e começa com pequenas atitudes.
Faça um orçamento realista
Nada de planilhas malucas. Só precisa saber: quanto entra, quanto sai e onde pode cortar. Deixe espaço pro lazer, mas com limite.
Crie metas palpáveis
Quer viajar? Comprar algo maior? Juntar uma reserva? Bota a meta no papel e, mais importante: visualize. Dá pra usar quadro de visão, post-it na geladeira, o que funcionar pra você.
Use a regra 24 horas
Antes de comprar algo não planejado, espere um dia. Se depois de 24 horas ainda achar que precisa, tudo bem. Mas muitas vezes a vontade passa.
Aprenda sobre dinheiro
Não precisa virar expert em investimentos. Mas entender o básico – juros, crédito, reserva de emergência – muda tudo. Tem muito conteúdo gratuito na internet, aproveita!
Fale sobre dinheiro
Isso ainda é tabu, mas deveria ser conversa de bar. Divida suas metas com alguém, peça ajuda, troque experiências. Você vai ver que não está sozinho nessa.
O salário não é mágico (mas pode ser bem usado)
Muita gente trata o salário como se fosse um evento mágico que resolve todos os problemas. Mas se você não souber usá-lo, ele escorre pelos dedos. E não adianta culpar o salário baixo se você torra tudo no primeiro final de semana.
Exemplo prático? Bruno ganha R$ 3.500. No dia 6 já comprou celular novo, parcelou uma TV, fez happy hour três vezes e está pagando três assinaturas de streaming que nem usa. No dia 15, já tá no cheque especial. Culpa do salário? Ou da falta de estratégia?
Autossabotagem financeira x inteligência emocional
Por trás da sabotagem financeira quase sempre está a emoção mal administrada. Muita gente gasta pra compensar o que sente. Tristeza? Compra. Ansiedade? Compra. Tédio? Compra também. É como usar o cartão como analgésico.
Por isso, olhar pra dentro é tão importante quanto olhar pro extrato. Terapia ajuda. Autoconhecimento ajuda. Às vezes o problema não é o dinheiro – é como você lida com ele.
Finalizando com um papo reto
A autossabotagem brasileira é sorrateira. Chega de mansinho, com cara de “só hoje”, “é só um lanche”, “eu mereço”. Mas no fundo, você sabe quando está metendo os pés pelas mãos.
Não precisa viver com culpa. Dinheiro é ferramenta, não inimigo. E se você aprender a usá-lo de forma consciente, vai ver que não precisa de milagre – só de atitude.
E aí, vai continuar atrasando o próprio salário ou vai dar o primeiro passo pra virar o jogo?
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