Dar mesada para os filhos é um erro ou, na verdade, é um jeito esperto de ensinar responsabilidade financeira desde cedo? Essa é uma daquelas perguntas que dividem famílias, provocam debates acalorados em grupos de pais e até geram opiniões apaixonadas nas conversas de domingo.
Tem gente que acha que mesada é um incentivo ao consumo desenfreado, enquanto outros defendem que ela é uma ferramenta poderosa de educação financeira. Mas, afinal, quem está com a razão? É o que vamos descobrir juntos!
O dilema da mesada: amor, dinheiro e um pouco de drama familiar
Imagine a cena: sábado de manhã, você está tomando seu café tranquilamente quando seu filho aparece com aquela cara de “quero alguma coisa” e dispara: – Pai, mãe… você pode me dar dinheiro para comprar um jogo novo?
Se você der o dinheiro na hora, talvez ele aprenda que pedir sempre funciona. Mas se disser “não”, pode gerar frustração (e até um certo drama digno de novela mexicana). É aí que entra a tal da mesada — uma quantia fixa que a criança recebe, geralmente todo mês, para gastar como quiser.
Mas, e aí, dar mesada para os filhos é um erro? Bom, depende de como ela é aplicada.
Mesada: vilã ou mocinha da educação financeira?
A mesada, por si só, não é boa nem má. Ela é como uma faca: você pode usá-la para preparar um jantar delicioso ou para fazer uma bagunça na cozinha. O que vai determinar o resultado é o jeito que você apresenta e administra essa ferramenta.
Quando bem orientada, a mesada pode ensinar:
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O valor do dinheiro.
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O poder de escolha.
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O planejamento para objetivos maiores.
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Consequências de gastos impulsivos.
Mas, sem orientação, pode incentivar:
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Gastos sem reflexão.
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Ansiedade por querer sempre mais.
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Pouca valorização do esforço para ganhar dinheiro.
Exemplo
Uma mulher decidiu dar mesada para a filha de 9 anos: R$ 40 por mês. No primeiro mês, a menina gastou tudo em figurinhas e doces no primeiro dia. Ficou 29 dias pedindo “adiantamento”. No segundo mês, a mãe sentou e explicou: “Filha, se você gastar tudo no primeiro dia, vai ter que esperar até o próximo mês. E não tem adiantamento.” Três meses depois, a menina já estava guardando parte para comprar um fone de ouvido que queria. Ou seja: com paciência e consistência, a lição foi aprendida.
Por que tanta gente acha que dar mesada é um erro?
Existem três grandes motivos para o preconceito contra a mesada.
1. Medo de “estragar” a criança
Alguns pais acham que dar mesada é mimar demais, como se estivessem dando um “dinheiro fácil”. Mas se o objetivo é ensinar responsabilidade, não há nada de errado — desde que fique claro que não é um “vale tudo” para gastar sem pensar.
2. Confusão com “mesada sem motivo”
Se a criança recebe sem nenhuma conversa sobre como administrar, a mesada perde todo o sentido educativo. É como entregar as chaves de um carro sem explicar onde fica o freio.
3. Falta de exemplo em casa
Não adianta falar de planejamento financeiro se, dentro de casa, o adulto gasta sem critério e vive reclamando de dívidas. Crianças aprendem mais pelo que veem do que pelo que ouvem.
A importância do “manual de uso” da mesada
Se você decidir dar mesada, precisa estabelecer algumas regrinhas. Pense nela como um “treinamento prático” para a vida adulta. Eis algumas dicas:
Defina um valor compatível com a idade
Não precisa ser alto. Crianças menores precisam de menos dinheiro, já que suas necessidades e vontades são mais simples. Por exemplo:
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6 a 8 anos: R$ 10 a R$ 20 por semana.
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9 a 12 anos: R$ 20 a R$ 50 por semana.
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13 a 17 anos: pode aumentar, mas junto vem mais responsabilidade (como pagar parte de passeios ou recargas de celular).
Estabeleça frequência fixa
Pode ser semanal (bom para menores) ou mensal (ideal para adolescentes). Isso ensina a esperar e planejar.
Não ceda a “adiantamentos”
Se acabar antes da hora, é parte do aprendizado. Dói? Sim. Mas ensina a pensar duas vezes antes de gastar.
Oriente sobre divisão do dinheiro
Você pode ensinar seu filho a separar o valor em três partes:
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Gastar agora – para pequenos prazeres.
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Guardar – para algo maior.
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Doar – para desenvolver empatia e consciência social.
Mesada ou pagamento por tarefas: qual é melhor?
Outro ponto que sempre gera polêmica é se a mesada deve ser “gratuita” ou atrelada a tarefas domésticas.
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Mesada fixa: a criança recebe independentemente de tarefas, como parte do aprendizado de gerenciar recursos. As tarefas domésticas seriam uma obrigação de todos na casa.
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Pagamento por tarefas: a criança recebe dinheiro extra por trabalhos específicos (lavar o carro, ajudar a organizar o quintal). É uma forma de mostrar que esforço extra gera recompensa extra.
Uma solução híbrida funciona bem: mesada fixa para o dia a dia, com chance de ganhar extra por tarefas adicionais. Assim, a criança aprende que o trabalho pode gerar renda.
O papel da mesada na independência
Quando usada de forma consciente, a mesada ensina o valor da independência financeira. Ao invés de depender dos pais para cada gasto, a criança começa a tomar decisões por conta própria. E, claro, às vezes vai errar — e é exatamente nesse erro que o aprendizado acontece.
Lembro de um garoto que juntou dinheiro por três meses para comprar um brinquedo. Quando finalmente comprou, percebeu que não gostava tanto assim dele. A frustração foi grande, mas, depois disso, ele começou a pesquisar mais antes de gastar. Esse tipo de vivência vale mais que mil sermões.
A questão emocional: aprender a lidar com frustração
Muitos pais evitam a mesada porque não querem ver os filhos frustrados. Mas a vida adulta está cheia de limites e decisões difíceis. É melhor aprender a lidar com isso cedo, quando o “erro” envolve apenas gastar R$ 20 em algo inútil, do que mais tarde, com dívidas de cartão de crédito.
Mesada não substitui conversa
Não basta entregar o dinheiro e esperar que a criança “aprenda sozinha”. A mesada precisa vir acompanhada de conversas frequentes sobre:
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Como foi gasto o valor.
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O que deu certo e o que poderia ser diferente.
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Ideias para poupar e conquistar algo maior.
Essas conversas devem ser leves, sem tom de interrogatório. É mais um bate-papo do que uma “prestação de contas”.
Mesada na era digital
Hoje em dia, existem aplicativos e contas digitais para crianças e adolescentes. Isso permite que eles aprendam a movimentar dinheiro, acompanhar saldo e até criar “cofrinhos virtuais” para objetivos. É uma ótima forma de conectar o aprendizado à realidade moderna.
E quando não dar mesada?
Sim, existem casos em que a mesada pode não ser uma boa ideia:
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Quando a família está passando por dificuldades financeiras e não pode assumir esse compromisso.
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Quando a criança não demonstra maturidade mínima para lidar com o dinheiro (embora, às vezes, a própria mesada possa ajudar a desenvolver essa maturidade).
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Quando o ambiente familiar não favorece o diálogo sobre dinheiro.
Conclusão: afinal, dar mesada para os filhos é um erro?
Não, dar mesada para os filhos não é um erro — desde que feita com propósito, regras claras e acompanhamento. Ela pode ser um presente muito maior que o próprio dinheiro: o presente da autonomia, do planejamento e da consciência financeira.
Se você ainda está na dúvida, comece pequeno, teste por um ou dois meses e veja como seu filho reage. Ajuste o valor, a frequência e as regras conforme necessário. No fim, a mesada é menos sobre “dar dinheiro” e mais sobre “dar ferramentas para o futuro”.
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